O que pode sugerir um leitor compulsivo de Poesia senão Poesia?
Abril e seus precursores
Tratando-se de Abril, começo por propor a leitura daqueles poetas que, de alguma forma, perseguiram o Sonho e dilataram os horizontes da Utopia. Falo dos Precursores de Abril. É, assim, impossível esquecer aquilo que veio a constituir o verdadeiro manifesto poético do Neo-realismo português: o
Novo Cancioneiro, um repositório de 10 livros de poesia publicados em Coimbra entre 1941 e 1944, com nomes como Fernando Namora, Mário Dionísio, Manuel da Fonseca, Carlos de Oliveira, Sidónio Muralha, entre outros.
Para se estabelecer uma relação com outros autores europeus de ideário póximo, sugeriria também um dos meus livros predilectos:
Trabalhar Cansa, do italiano Cesare Pavese.
Poetas do PortoNão sendo do Porto, mas da sua área metropolitana, passo muitas horas da minha vida, há mais de uma década, nesta cidade, dedicando-me à divulgação e leitura da Poesia. Por isso não posso esquecer os poetas portuenses, que são muitos. Por agora, alvitraria a leitura de três poetas vivos:
A obra de João Miguel Fernandes Jorge, por exemplo,
Março, os Remadores do Douro, uma dúzia de poemas que têm o Porto como cenário;
A obra de Amadeu Baptista, um devorador de prémios literários em Portugal e no estrangeiro, autor, por exemplo, de
A Arte do Regresso e de
O Bosque Cintilante;
A obra de Rosa Alice Branco, reunida em
Soletrar o Dia, com a sua extraordinária poética da percepção.
Haiku e Poetrix
Cada vez se fala mais em “Poetrix”, uma nova linguagem poética que nasceu no Brasil faz agora dez anos, criada pelo poeta brasileiro Goulart Gomes e que tem milhares de praticantes em todo o Mundo, nomeadamente no Brasil, em Portugal, Espanha, Itália, Estados Unidos, Ásia e toda a América Latina. Publiquei em 2002 o primeiro livro europeu de Poetrix (
Esta Outra Loucura) e creio que, neste ano comemorativo de uma década de vida desta nova modalidade em terceto, vamos ouvir falar muito mais dela, nomeadamente no Clube Literário do Porto.
Dado que o Poetrix descende em linha recta do antigo Haiku japonês, proponho que façamos o confronto entre as duas formas, começando por ler
O Gosto Solitário do Orvalho, de Matsuo Bashô (tradução de Jorge de Sousa Braga) e
À Noite as Estrelas Descem do Céu, de João Pedro Mésseder, ambos sobre o Haiku. Depois, se quiserem mais pormenores sobre o Poetrix e não quiserem dar uma vista de olhos no meu livro, prefaciado por Goulart Gomes, consultem, pelo menos na Internet, o sítio do
MIP – Movimento Internacional Poetrix.EnsaiosPara alargar e alicerçar alguns conhecimentos sobre literatura, poesia e os poetas, sou também leitor assíduo de ensaios. Estou a ler um ensaio recente, que recomendo,
O Enigma de Sophia – Da Sombra à Claridade, de Helena Malheiro, sobre a autora, também portuense, do Canto Sexto.
E, finalmente, recomendo também um best-seller em França, mas traduzido para Português, da autoria de Pierre Bayard,
Como Falar dos Livros Que Não Lemos?, que está a dar-me muito prazer ler. Não é para aprender como se faz, mas para ter uma ideia do que vejo a outros fazer (do género do Dr. Marcelo).
Anthero Monteiro é Natural de S. Paio de Oleiros, concelho da Feira, é licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras do Porto e Mestre em Estudos Portugueses pela Universidade de Aveiro. Foi professor, autor de livros didácticos (em Portugal e Cabo Verde) e formador de docentes. Coordena várias tertúlias literárias, nomeadamente as Quartas Mal Ditas do Clube Literário. Poeta, diseur, ensaísta, autor de livros de história local, é director de uma biblioteca pública e foi director de um jornal regional. Integra várias antologias literárias, duas delas editadas no Brasil. Publicou, entre muitos outros:
A Lia Que Lia Lia, A Sara Sardapintada (poesia infanto-juvenil);
Canto de Encantos e Desencantos,
O Remédio é Naufragar, Desesperânsia, Esta Outra Loucura (poesia);
O Misticismo Laico de Manuel Laranjeira (ensaio).