Gabriel Walker, Um Oceano de Ar – Uma História Natural da Atmosfera, Europa-América, 2008.
A escrita de Gabriel Walker é elegante e cativa o leitor. Foi um prazer ler esta história natural da atmosfera. Na verdade, várias histórias. Deste o longo mergulho na atmosfera de Joe Kittinger, em 1970, até à investigação das cinturas de radiação por James van Allen, nos primórdios da era espacial, passando pelas engenhosas experiências de filósofos naturais como Priestley ou Lavoisier, de tudo um pouco se pode encontrar nesta narrativa brilhante de uma escritora científica de primeira água. A química da atmosfera é tratada com particular atenção e conhecimento de causa (a autora é doutorada em química). Um dos assuntos em que ficamos com uma visão mais alargada e fundamentada é o da camada de Ozono: os avanços e recuos da investigação são relatados com rigor e detalhe.
A ideia de nos vermos como seres que habitam o fundo de um imenso oceano de ar não deixa de ser estimulante. Foi proposta por Torricelli, discípulo de Galileu.
Janet Browne, A Origem das Espécies de Charles Darwin, Gradiva, 2008.Em ano de comemorações Darwinianas esta sugestão não podia faltar. Janet Browne, professora na Universidade de Harvard, é uma das maiores especialistas na história da biologia do século XIX e talvez a mais conceituada biógrafa de Darwin. Aqui escreve sobre um dos mais influentes livros da história das ciências: «A Origem das Espécies». Começa pelo caldo cultural da época, o cenário que enquadrou a génese da obra. Em seguida, analisa os contornos da sua publicação e, por fim, debruça-se sobre as reacções e apropriações do livro nos mais diversos sectores da sociedade vitoriana. Esta obra foi escrita num tom escorreito e constitui uma excelente introdução ao tema.
Charles Darwin, A Origem das Espécies, Europa-América, 2005.Depois da contextualização de Browne, proponho a leitura da própria obra de Darwin. Nos últimos tempos tenho-me recordado com frequência da frase de uma autora francesa chamada Germaine Aujac. Escrevia ela logo na primeira frase de uma tradução de vários textos de Ptolomeu: «Ptolomeu é um autor de que falamos muito mas que lemos pouco.» Para evitar cair-mos no erro de comentar Darwin sem o ler nada melhor do que percorrer as páginas desta tradução de «A origem das Espécies.» O estilo de Darwin não é difícil de seguir e esta edição trás mesmos um glossário (inserido na sexta edição) que ajuda o leitor não especialista a compreender o vocabulário técnico.
David Bodanis, O Universo Eléctrico – A verdadeira e surpreendente história da electricidade, Gradiva, 2008.Nos últimos dois séculos a electricidade ganhou um papel no nosso quotidiano que torna a leitura deste livro quase obrigatória. As mudanças civilizacionais proporcionadas pelo domínio dos electrões são, sem dúvida, avassaladoras. Reflectem-se, por exemplo, no computador em que escrevo estas linhas e naquele em que o leitor as irá ler. Além dos aspectos históricos tratados, a informação científica é servida neste livro numa linguagem acessível e cativante. Acima de tudo o autor – professor de história das ideias em Oxford – tem um sentido apurado para boas histórias. Imagine-se que uma das mais revolucionárias invenções do século XIX, o telégrafo, se deve em parte à necessidade que Joseph Henry teve de entreter alunos difíceis numa escola de Albany. Henry, que se tornaria um dos cientistas mais famosos da América, envolveu os seus estudantes em experiências com fios e bobinas, transmitindo sinais a metros de distância.
Luís Tirapicos é jornalista e escritor científico freelancer. Trabalhou durante seis anos no Departamento de Conteúdos do
Visionarium - Centro de Ciência do Europarque, em S. Maria da Feira. Tem colaboração dispersa por publicações como a National Geographic Portugal, Expresso, Boletim da Universidade do Porto ou o Journal for the History of Astronomy. Como investigador independente tem colaborado em trabalhos no domínio da Arqueoastronomia.