quarta-feira, 10 de junho de 2009

SUGESTÕES DE LEITURA PARA JUNHO, por Tiago Patrício

Teatro:


"Peça com Repetições, (A)tentados"; de Martin Crimp, edição Campo das Letras
Se o teatro de Sarah Kane possui uma estética alucinada que toca o público através de electrochoques, num novo teatro da crueldade, Martin Crimp lança-nos a ideia de que não somos quem realmente pensamos que somos e que vivemos numa época não humana, num anúncio. Teatro por vezes sem personagens, num mundo dividido entre cidades assépticas e cheias de arte, cafés elegantes e roupas atraentes nas montras e outro mundo devastado por bombardeamentos, devastação e sangue nas ruas. Uma orquestração de tempos e motivos de respiração, num jogo dramatúrgico de ecos e repetições. (retirado da introdução de Paulo Eduardo Carvalho)

"Inverno" e "O nome" - Jon Fosse, edição Campo das Letras e também nos Livrinhos de Teatro das edições Cotovia
Jon Fosse é Norueguês e estreou-se na literatura em 1983, é um dos dramaturgos contemporâneos mais representados na Noruega.Estreou em Portugal, em 2000, com a peça "Vai vir alguém", pelos Artistas Unidos no espaço A Capital, em Lisboa.


Ensaio

Um quarto que seja seu - Virgínia Woolf, editora Vega
Um livro que faz eco da falta de independência das mulheres até ao séc. XX para poderem escrever. A falta de autonomia financeira, de pensamento e de espaço em casas e famílias que reclamavam o tempo e a disponibilidade feminina. "Um quarto que seja seu" continua a ser uma referência para quem pretende descolar de uma escrita naturalista, de justificações e complexos e iniciar um caminho próprio de tentativa e erro, de riscos e quedas em abismos criativos.

O declínio da mentira - Oscar Wilde
No seu estilo exuberante e de um humor vivo, Wilde relembra que é a vida quem imita a arte e não o contrário. Um tema actual em que os publicitários/colunistas/comentadores dos jornais e televisão actualizam e fabricam diariamente a realidade em que devemos acreditar, enquanto tudo arde abaixo dos nossos pés.



Poesia



Homens que são como Lugares mal situados, Daniel Faria, Fundação Manuel Leão
No mês em que passam 10 anos do seu desaparecimento, Daniel Faria consolida um espaço de referência na poesia portuguesa contemporânea.

"Homens que são como casas saqueadas
que são como sítios fora dos mapas
como pedras fora do chão
como crianças órfãs
Homens sem fuso horário
homens agitados sem bússula onde repousem
homens que são como fronteiras invadidas
que são como caminhos barricados
homens que querem passar pelos atalhos sufocados
homens sulfatados por todos os destinos
desempregados das suas vidas

(...)
Homens tão impreparados tão desprevenidos
para se receber
homens que trabalham sob a lâmpada
da morte
que escavam nessa luz para ver quem ilumina
a fonte dos seus dias"


Obra Poética - Cecília Meireles
Poeta brasileira, recebeu o prémio da academia brasileira em 1938, pela primeira vez concedido a uma mulher."Um viver permanente contíguo à morte, um sentir-se ausente e separada do amado por incapacidade de uma perfeita comunhão e porque a morte foi outra. Um desentendimento com a própria condição, uma recusa a julgar-se e a julgar os outros, um saber-se diferente e excluída." Nas palavras de João Bénard da Costa em 2001


Ficção



As casas de Julho e Agosto - Maria Gabriela Llansol, Relógio d'Água
"Um tratado sobre a escrita e a leitura e a servidão; sobre a pobreza e a sobrevivência; sobre o humano e o pré-humano. Eis um livro sobre o despojamento. O leitor deve esquecer os lugares comuns da cultura, o sítio restrito do aquário; deve abandonar a edeia de narrativa e a ideia de clausura que lhe subjaz e entrar no rio que aqui se confunde com o mar (da escrita) abarcando a ideia da casa aberta e fechada, nada ficando a saber da sequência dos factos narrados." José Augusto Mourão


O livro das igrejas abandonadas - Tonino Guerra, Assirio & Alvim
Tonino Guerra nasceu em Itália, trabalhou em cinema como argumentista de Michelangelo Antonioni, Fellini, Tarkovsky e Angelopoulos. Escreve poemas num dialecto em que quase ninguém fala, o romanholo e conserva-se fiel aos seus pequenos contos, fábulas e à tradição oral da sua infância "É um camponês cosmopolita. É no campo, onde viveu a infância e aonde regressou, que estão as suas raízes, as suas obsessões primordiais, o seu espaço mágico e porventura a sua língua. Mas foi a cidade que o levou ao encontro do mundo, dentro e fora de Itália, e lhe revelou a irradiação secreta que os ritos campestres podem ter num imaginário cosmopolita" Vicente Jorge Silva




Tiago Patrício nasceu no Funchal em 1979 e cresceu em Trás-os-Montes. É farmacêutico pela Universidade de Lisboa e estuda actualmente na Faculdade de Letras. Começou a publicar poesia nas antologias Jovens Escritores de 2007 e 2008. Realizou uma residência artística em Praga em Novembro de 2007, onde trabalhou com o Conservatório de Dança e com a Companhia Nacional de Bailado da República Checa.Fez uma teleperformance com poemas traduzidos para Checo no Teatro Archa em Junho de 2008Com "O Livro das Aves" venceu o prémio Daniel Faria 2009.Trabalha actualmente como farmacêutico no Hospital Prisional de Caxias.

Sem comentários: