quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

SUGESTÕES DE LEITURA PARA JANEIRO por António Pedro Ribeiro

“Assim Falava Zaratustra“ - Friedrich Nietzsche, Relógio D’ Água Editores

Longo poema profético, anti-Bíblia, assim se pode caracterizar “Assim Falava Zaratustra”, a obra imortal de Friedrich Nietzsche.
“Zaratustra” é uma crítica ao cristianismo e às sociedades do rebanho. Não se dirige ao que se dilui na multidão, ao que age sempre como os outros agem, ao que não tem rosto, ao que não possui o poder de uma vontade afirmativa. Não faz a apologia dos pobres, dos humildes, dos doentes, dos fracos nem promete o Reino dos Céus. O profeta Zaratustra nega o Reino dos Céus e proclama a morte de Deus. A morte de Deus representa o fim e o declínio da formulação de Deus que a metafísica clássica ocidental construiu. A ideia de Deus para o cristianismo corresponde a um sistema de valores que, segundo Nietzsche, o homem deveria abandonar e substituir por outro. A resignação, a docilidade, a simplicidade e o servilismo seriam substituídos pelo orgulho, pelo egoísmo, pela vontade de potência, pela sensualidade e pela nobreza de espírito. O homem procede à transvalorização de todos os valores. Mas não qualquer homem. O homem superior, o super-homem. Zaratustra fala aos vencedores, aos afirmadores da vida, aos que querem viver o aqui e o agora, aos que têm a Terra como único reino. Zaratustra opõe-se aos sacerdotes e aos moralistas, aos “acusadores da vida”, aos que negam e detestam a vida, aos que reprimem e condenam a volúpia, aos que associam as paixões e as pulsões vitais ao diabo e ao pecado, aos que pregam o Outro Mundo. Celebra a carnalidade, a vida vivida, a sensualidade, o simples gozo de existir.
“Zaratustra” é também um hino à liberdade, à liberdade de criação, ao espírito livre. O homem superior é um menino e um grande bailarino. “É aquele que não tem preconceitos, que faz da vida um jogo permanente, que se passeia na corda-bamba do devir”. O menino, a criança é o criador de novos valores, é o espírito livre. O querer liberta. A vontade que cria é libertadora. O homem superior é o homem livre.


“Memórias de um Alcoólico“ - Jack London, Edições Antígona

“Os devotos de John Barleycorn são assim. Quando lhes bate à porta a boa sorte, bebem. Quando não têm sorte, bebem na esperança de boa sorte. Se a sorte é madastra, bebem para esquecer. Se encontram um amigo, bebem. Se discutem com um amigo e perdem essa amizade, bebem. Se os seus assuntos amorosos são coroados de sucesso, ficam tão felizes que é obrigatório beberem. Se forem abandonados, bebem pela razão contrária. E se não têm nada para fazer, pois bem, tomam uma bebida, seguros de que, quando tiverem tomado um número suficiente de bebidas, as larvas começarão a rastejar nos seus cérebros e não terão mãos a medir com coisas para fazer. Quando estão sóbrios querem beber, e, quando bebem, querem beber mais.”
“Memórias de um Alcoólico” de Jack London é um tratado quase sociológico e sem falsos moralismos acerca do consumo do álcool e do alcoolismo. London descreve magistralmente a vida de “saloon” no início do séc. XX e a sua relação com o álcool. A bebida como sinal de virilidade e de sociabilização, a bebida ao lado da aventura e do romance, a bebida como símbolo de camaradagem, a dependência e os efeitos, está tudo na prosa de London que, em conclusão, defende a proibição do álcool.


“Guy Debor“ - Anselme Jappe, Edições Antígona

Anselm Jappe analisa o percurso teórico do principal mentor da Internacional Situacionista, Guy Debord.
Vivemos numa sociedade-espectáculo, uma sociedade marcada pela contemplação passiva de imagens, escolhidas por outros, que substitui a vivência e a capacidade de modificar os acontecimentos por parte do individuo. O espectáculo torna a comunicação exclusivamente unilateral, é aquele que fala enquanto os outros se limitam a escutar. A separação está na base do espectáculo. Às celebridades, aos actores ou aos políticos cabe representar os aspectos ausentes da vida pobre e desinteressante dos restantes indivíduos. Em todas as esferas da vida a realidade é substituída pela sua imagem.
Não é do homem e das suas obras que o espectáculo trata mas da mercadoria e das suas paixões. Toda a vida humana se submeteu às leis da economia. A Internacional Letrista, os situacionistas e a arte, a crítica da vida quotidiana, os situacionistas e os anos 60, Maio de 68 e depois e o mito Debord são outros dos temas abordados.


A. Pedro Ribeiro nasceu no Porto em Maio de 68. É licenciado em Sociologia e foi fundador da revista “Aguasfurtadas”. Vocalista da banda punk-rock MANA CALORICA & LAS TEQUILLAS. e desde há 19 anos que diz poesia e actua em performances poéticas por todo o país.

“Saloon” é o título do seu último livro de poesia, publicado pelas Edições Mortas. Publicou ainda a "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro. Manifestos do Partido Surrealista Situacionista Libertário" (Objecto Cardíaco, 2006), ("Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" (Edição Pirata, 2004) e "À Mesa do Homem Só. Estórias" (Silêncio da Gaveta, 2001).
- escreve nos blogues Trip na Arcada e Xamãs.

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